Importância do Gás Natural na Transição Energética Brasileira

Todos os 196 países participantes da 21ª Conferência das Partes (COP 21) – ocorrida em 2015 na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Paris – que firmaram o chamado “Acordo de Paris”, buscam implementar medidas para contenção de suas respectivas emissões de gases de efeito estufa. Ações concretas têm sido adotadas e o gás natural tem papel relevante nessa almejada transição para a economia de baixo carbono.

O papel do gás natural na transição para uma economia de baixo carbono foi considerado fundamental para os países honrarem os compromissos ambientais que assumiram na COP 21, quanto a confiabilidade energética. Em conjunto com as energias renováveis que são sustentáveis – ainda que com intermitência ou instabilidade na geração – é sabido que o gás natural também contribuirá para atender à crescente demanda de energia, assim como para reduzir significativamente as emissões de CO2, conseguindo assim atingir a pretendida melhoria da qualidade de vida e de produtividade, através de desenvolvimento econômico e ambiental no curto e médio prazo.

O mercado de gás natural do Brasil, no entanto ainda não é tão maduro quanto os dos países industrializados e por isso a maior inserção desta fonte energética é estratégica para o desenvolvimento sustentável do país.

O aumento da demanda global por energia e a necessidade de redução de emissões de gases que geram o efeito estufa (GEE) acabou por incentivar a introdução e desenvolvimento da geração de energia utilizando fontes mais limpas e renováveis. Porém, apesar desse forte acelerador nas últimas décadas, a geração fóssil ainda é predominante na matriz mundial, e deverá assim permanecer, num longo horizonte de tempo, como supridor importante da necessidade energética existente.

A partir do conhecimento adquirido com o que aconteceu em alguns estados americanos que adotaram fontes intermitentes, como a solar e eólica, de forma majoritária o que ocasionou instabilidade no sistema e apagões frequentes percebeu-se que ao se falar em energia renovável para atender o sistema elétrico deve-se em igual proporção investir em outras fontes de energia de forma a “ancorar” o sistema, ou seja, necessita de fontes flexíveis e despacháveis para manter a continuidade do fornecimento, durante os períodos do dia em que não haja insolação suficiente ou ventos em quantidade suficiente para gerar energia elétrica.

E o gás natural mostra toda a sua utilidade e relevância tanto que a Califórnia, um dos estados americanos que sofreu com os apagões recentemente, está contratando novos geradores de energia a gás para auxiliar nos momentos que o clima não estiver propicio para atender a demanda.

O Brasil tem a oportunidade de dinamizar a sua indústria utilizando o gás como a fonte energética da transição, pois assegura segurança e estabilidade ao sistema, além de ser uma fonte competitiva e contribui positivamente para o meio ambiente ao substituir combustíveis fósseis mais poluentes, reforçando desta forma o caráter estratégico para obter equilíbrio entre sustentabilidade ambiental, confiabilidade energética e custos de energia justos, e o incremento de sua utilização não acarreta desafios em relação a sua tecnologia para atender às respectivas cadeias produtivas que hoje empregam os demais hidrocarbonetos.

As Usinas Termelétricas a gás natural é uma alternativa para deslocar as que ainda utilizam carvão como fonte geradora, já que tem mais eficiência energética, ou seja, a parcela da energia liberada pelo combustível que é convertida em eletricidade é maior. Usinas menos eficientes queimam mais e, consequentemente, emitem mais GEE por gigawatt hora (GWh) produzido.

No caso do gás natural, seu poder calorífico é bem superior ao do carvão mineral e próximo ao do petróleo e também apresenta menores emissões de CO2 – 33% menos CO2 do que o óleo combustível, 17% menos que o gás liquefeito de petróleo (GLP), 26% menos que a gasolina, e 27% menos que o óleo diesel ¹ .

É importante destacar que o gás natural não contribui apenas com a diminuição das emissões de CO2, mas também com a redução drástica, quase integral, de outros poluentes tóxicos e particulados cancerígenos presentes nesses combustíveis. Nos chamados países desenvolvidos e industrializados a infraestrutura de gás natural não por acaso já está estabelecida, e exerce papel econômico importante de estabilização e continuidade do suprimento de energia elétrica.

O Brasil, portanto, tem a opção de se beneficiar do conhecimento desenvolvido por tais países, bastando seguir os caminhos mais sustentáveis de desenvolvimento, explorando o gás natural na costa do país com o pré-sal e o biogás no interior, a partir de resíduos agropecuários e florestais, necessitando para isso desenvolver a malha de gasodutos da costa em direção ao interior, possibilitando com isso viabilizar a produção do biogás no interior do país, bem como possibilitar o uso em pequenas e médias cidades brasileiras, ainda que seja necessário contar com gasodutos virtuais

O gás natural propicia ao Brasil a oportunidade de substituir fontes mais poluentes como o óleo combustível na indústria, o carvão, diesel e óleo combustível e, ainda tem um caráter complementar às fontes renováveis de energia, ancorando e estabilizando o sistema elétrico, bem como substituir o diesel no transporte e viabilizar a produção e comercialização de biogás no campo e em cidades pequenas e médias, colaborando assim para o desenvolvimento econômico e social, reduzindo as desigualdades regionais e sociais.

Por Luis Fernando Priolli
Sócio da área de Energia, Petróleo e Gás

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¹(bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/20802/1/PR_Gas%20natural_215277_P_BD.pdf.)