Open innovation, empresas familiares e seus efeitos colaterais

A atualidade trouxe aos empreendedores uma certa angústia. A natural inquietação do seu espírito criativo e aventureiro é, a cada minuto, instigada pela sensação de que sua ideia de produção, ou mesmo seu produto, provavelmente estão ficando obsoletos. A velocidade com que a inovação atinge processos de negócio existentes, provando-os ultrapassados, é estarrecedora.

Houve o tempo em que alguns setores da chamada “economia tradicional”, tais como empresas com governança familiar, imaginaram-se alheios a esta ansiedade. Tratava-se de algo muito específico para o segmento de tecnologia e do universo “.com”. Entretanto, em 2020, gigantes industriais da área de beleza, aço e mineração, alimentos, energia, química e construção civil compuseram o ranking das 20 empresas no Brasil que mais se relacionaram com ecossistemas de inovação.

E há frequentemente uma confusão. Grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento não representam necessariamente capacidade de inovar. É claro que agregar tecnologia a seus produtos e digitalizar processos produtivos devem gerar quesitos de eficiência e fazem parte do processo de transformação digital das organizações. Mas empreender e inovar, a um só tempo, demandam uma abordagem alternativa.

Projetar o negócio a partir de feedbacks do mercado sobre um MVP; focar num processo de melhoria constante a partir de erros identificados ao invés de investir em um planejamento extremamente detalhado; modelar processos criativos a partir de estímulo à interação entre diferentes indivíduos; dar reconhecimento a habilidades pessoais não necessariamente decorrentes de hard skills; ver no erro não um problema, mas, sim, parte da busca pela solução; usar metodologias ágeis para coordenar atividades interativas; todas características bastante frequentes em projetos cuja entrega depende da ação: inovar.

Já cientes de que não estavam imunes a este risco de obsolescência, determinadas empresas familiares apressaram-se em contratar times focados em produzir e reensinar sob estas novas óticas. Esforço válido. Porém, as métricas, os manuais, a cultura e os ambientes talhados durante gerações de esforço e sucesso tendem demandar uma abordagem alternativa de remodelação.

E foi justamente com a criatividade destes modelos da “nova economia” que nasceu o open innovation. A ideia é abrir para terceiros as necessidades e os fluxos de conhecimento internos, de maneira que outros empreendedores, notadamente startups, possam interagir com a organização. Objetivo principal: acelerar a tecnologia conhecida e propor soluções inovadoras que catalisem a evolução de meios e de produtos.

Aprendizado de processos e ganhos econômicos recíprocos são alguns dos seus efeitos colaterais positivos. O conhecimento, as bases de dados, as oportunidades de provar conceitos e os recursos financeiros são bem recebidos pelas startups como uma mais valia que apenas lhes seria oportunizada em estágios mais avançados de maturidade. A possibilidade de vivenciar, participar e incorporar características especiais deste processo de produção criativa são decorrências indiretas usualmente apreciadas pelas companhias e empresas familiares que se abrem para esta abordagem. Como cereja do bolo, é possível ainda o nascimento de novas e promissoras spinoffs e joint ventures.

E já quanto aos efeitos colaterais adversos, a recomendação é adotar uma boa definição de estratégia, um adequado processo de governança, due diligence ágil e salvaguardas jurídicas apropriadas, próprias de um programa de open innovation.

Bem conduzidos, programas de inovação aberta podem trazer para o ambiente das empresas de governança familiar a tão aclamada característica de negócios disruptivos.

Fonte: Jornal do Commercio